Ou seja, a fé Reformada não fica constrangida com o evangelismo. Os dois não são incompatíveis. Na verdade, a fé Reformada e as igrejas Reformadas possuem o único fundamento real para o evangelismo. São as doutrinas Reformadas da eleição incondicional soberana, da expiação limitada e da graça irresistível que dão uma razão para fazer evangelismo e para esperar frutos nessa grande obra.
Pense nisso dessa forma: como pode haver alguma esperança de pecadores perdidos serem salvos por meio do evangelismo, se a salvação depende do livre-arbítrio deles? Homens e mulheres pecaminosos têm dificuldade de escolher que sapatos calçarão quando se arrumando pela manhã. Como então eles escolheriam ser salvos, especialmente se estão verdadeiramente perdidos? Como pecadores cujas mentes estão obscurecidas pelo pecado (II Co. 4:4), e em inimizade contra Deus (Rm. 8:7), chegam ao conhecimento da verdade, senão pela graça soberana e eficaz, iluminando suas mentes e concedendo-lhes gratuitamente tudo da sua salvação?
É aqui em primeiro lugar, portanto, que o evangelismo Reformado é único. Ele fornece a verdadeira base bíblica para o evangelismo. Ele não crê que Deus ama e deseja a salvação de todos, que Ele enviou Cristo para morrer por todos sem exceção, e que agora depende da livre escolha do homem se ele será salvo ou não.
Antes, a fé Reformada ensina que Deus escolhe quem será salvo (Jo. 1:12-13; 15:16; Rm. 9:16; Fp. 2:13; Tg. 1:18) de acordo com Seu eterno amor por eles em Cristo; que Ele providenciou salvação para eles na morte de Cristo sobre a cruz (Gl. 6:14; Cl. 1:21-22) e que Ele poderosa e infalivelmente dá-lhes essa salvação pela obra e graça irresistível do Espírito Santo (Jo. 6:37, 44; Ef. 2:8-10). Assim, no evangelismo Reformado há a esperança segura que esses serão salvos. Não existe tal esperança no ensino que a salvação depende do querer ou correr do homem.
Mas como a pregação do evangelho se encaixa nisso? Isso não torna a pregação do evangelho desnecessária, conforme a acusação de alguns? Afinal, evangelismo tem a ver com a pregação do evangelho. Isso é o que a palavra "evangelismo" significa.
Ao responder essas questões, a fé Reformada ensina duas coisas sobre a pregação do evangelho. Primeiro, ela insiste, como a Escritura também, que o evangelho é o meio que Deus usa para encontrar os Seus eleitos (Atos 14:47-48, Atos 18.9,10) e trazê-los à fé salvadora em Cristo e assim à salvação. Em segundo lugar, a fé Reformada ensina que o evangelho como meio é poderoso. Esse poder pelo qual os homens se arrependem e crêem não reside no pecador ou em sua vontade, mas no evangelho. Por ele os pecadores são poderosamente chamados (Rm. 10:17), recebem arrependimento e fé (Atos 11:18), têm sua mente e vontade mudada, e são assim soberana, irresistível e atraídos a Cristo (Rm. 1:16; I Co. 1:18, 24).
É a doutrina do livre-arbítrio, portanto, que destrói o evangelismo. O ensino que Deus ama todos os homens simplesmente reassegura aos pecadores que tudo está bem com eles. A idéia que Cristo morreu por eles somente confirma-os na noção equivocada que sua situação não é de desespero. Dizer que eles têm a escolha crítica em sua própria salvação—que Deus depende e espera por eles—apenas os estabelece em sua rebelião contra Deus e ensina-os que eles são como deuses! Isso não faz nada pela salvação de pecadores perdidos!
Na perspectiva Reformada o evangelismo é nada mais ou menos que a pregação do evangelho! Se estivermos pregando o evangelho, estaremos fazendo evangelismo fielmente. Embora seja algo óbvio, muitos têm esquecido isso. Assim, eles falam sem fim sobre métodos evangelísticos e gastam grande tempo traçando esquemas complicados e caros de evangelismo para as suas igrejas. Parece que não entrar na mente deles que evangelismo significa pregação. Como disse certa vez Ronaldo Lidorio : "O evangelismo é a pregação do evangelho". Ou seja, cultos evangelísticos tendem a degenerar-se em cultos onde a mesma mensagem é ouvida semana após semana, mas toda vez "agarrada" a um texto diferente, para o extremo aborrecimento e frustração daqueles que desejam aprender a verdade, essa prática tem esquecido a simples verdade que toda pregação do evangelho é evangelismo. Não importa sobre qual passagem da Escritura uma pessoa esteja pregando, se ele está pregando apropriadamente, fielmente tal pessoa está pregando o evangelho. Não existe tal coisa como uma mensagem "evangelística" especial.
Contudo, talvez cristãos e ministros cristãos tenham esquecido ou não entendem que toda a Escritura revela Cristo e, portanto, é o evangelho no sentido mais pleno da palavra (Jo. 5:38-39). Se a Escritura é propriamente pregada, Cristo é pregado. Se Cristo está sendo pregado, o evangelho está sendo pregado. E se o evangelho está sendo pregado, então pecadores serão salvos por ele. Esse é o meio apontado por Deus para a salvação deles.
Tememos que a prática de ter cultos "evangelísticos" denuncia uma falta de confiança no evangelho como o meio que Deus escolheu usar para a salvação dos Seus. Assim, tais cultos tendem a se tornarem tentativas de despertar emoções, amedontrar as pessoas, ou produzir algum tipo de "decisão." Certamente há pouco da Palavra de Deus exposta em tais cultos e ainda menos dependência do Espírito Santo para produzir fruto.
Mas há outras razões pelas quais é errado devotar um culto de todo Domingo para pregar aos incrédulos. Isso denuncia uma visão errônea da igreja, como se a igreja fosse ordinariamente um lugar para incrédulos, e ignora o ensino de I Coríntios 14:23. Ali a Palavra sugere que não é uma coisa normal, mas sim excepcional um incrédulo comparecer aos cultos de adoração. A igreja é para os crentes e os seus filhos.
Existe outro problema aqui também. É a idéia que a obra de evangelismo cessa tão logo alguém "seja salvo." Se evangelismo é pregar o evangelho, e se pregar o evangelho é pregar e ensinar "todo o conselho de Deus," então a obra de evangelismo terá apenas começado quando uma pessoa se arrepende e crê. Nesse ponto ele ainda precisará pela pregação do evangelho—evangelismo—ter o caminho de Deus exposto mais perfeitamente (Atos 18:26) e ser arraigado e edificado na verdade (Cl. 2:6-7). Esse aspecto do evangelismo é quase inteiramente negligenciado hoje.
Isso não significa, contudo, que não existe diferença entre pregar o evangelho na igreja e àqueles que estão fora da igreja, ou que o povo Reformado crê somente na pregação do evangelho dentro da igreja. O evangelho deve ser pregado em todo lugar que Deus em Seu beneplácito o envia!
Nessa conexão quero enfatizar aqui que a fé Reformada crê na pregação do evangelho àqueles que estão fora da igreja, bem como àqueles que já foram salvos e são membros da igreja, aos pagãos bem como aos cristãos. Aqui também a fé Reformada não é inimiga do evangelismo.
Mesmo aqui, contudo, o evangelismo não pode ser limitado àqueles que nunca ouviram o evangelho. Aqueles que têm ouvido e se apartado, aqueles que fazem uma profissão do Cristianismo mas não conhecem a Palavra de Deus e aqueles que são membros de igrejas onde o evangelho não é pregado ou não é pregado puramente, são também os objetos do evangelismo. Quando Jesus falou dos campos estarem brancos para a colheita, Ele estava pensando especialmente nas multidões que estavam espalhadas e desfalecendo, como ovelhas que não têm pastor (Mt. 9:36-38).
Aquilo ao que a fé Reformada se opõe é a pregação de mentiras que Deus ama todo o mundo e deseja salvar todos, deixando a impressão que tudo está bem com os incrédulos. Ela é inimiga da idéia que as promessas do evangelho são para todos (observe: elas devem ser pregadas a todos, mas não são PARA todos). As coisas prometidas são apenas para aqueles que se arrependem e crêem sob a pregação do evangelho, não para todos incondicionalmente. Pregar outra coisa é dar falsa esperança àqueles que não crêem e sugerir que Deus é incapaz diante da incredulidade daqueles que a graça não o tocou e isso o evangelismo Reformado não pode e não fará.
Wilson Plaza
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