sábado, 6 de abril de 2013

Estudo sobre Apocalipse 20.15

O destino eterno se refere ao estado de existência que os seres humanos experimentarão depois da ressurreição dos mortos e do juízo final. Por isso, de certa forma, somente aí começará a eternidade para os homens, e só então todos terão plena consciência disso. Será uma forma de existência bastante diferente da atual. É possível que o próprio conceito de tempo não exista mais, não pelo menos, como o conhecemos hoje. Todos os homens existirão eternamente, porém, o destino dos perdidos e o destino dos salvos serão muito diferentes.

Pois bem vamos analisar o texto de apocalipse 20. 15.
"E, se alguém não foi achado inscrito no Livro da Vida, esse foi lançado para dentro do lago de fogo"

O Destino dos perdidos

O Lago de Fogo é o destino final dos perdidos (Ap 20.15). Este lugar aparece somente no décimo nono capítulo do Apocalipse. É interessante que, só no final da Bíblia, a existência deste lugar foi explicada. O Lago de Fogo deve ser identificado com o lugar de punição definitivo de todos os ímpios. É dito que a própria morte e o Inferno são, depois do Juízo, lançados para dentro do Lago de Fogo. Há uma diferença entre o Inferno e o Lago de Fogo. O Inferno existe hoje, mas deve ser considerado como um lugar transitório. As almas dos ímpios são atormentadas no Inferno, porém, estão lá sem corpo. No dia da ressurreição, mesmo os ímpios terão que ressuscitar para o Juízo, e então, com corpos serão lançados para dentro do Lago de Fogo. Portanto, num sentido, o Lago de Fogo é ainda pior que o Inferno atual. Podemos considerá-lo como o Inferno definitivo.
Tentativas de diminuir o Julgamento de Deus
Uma questão que normalmente surge com respeito à punição dos ímpios é a duração dela. A repugnância de muitos pela idéia de uma eternidade de punição conduziu naturalmente a pensar que o estado de punição não pode ser eterno. Esta idéia não é nova. A doutrina católica do Purgatório já é uma tentativa de minimizar os efeitos do Julgamento Divino. O Purgatório seria um lugar intermediário entre o céu e o Inferno para onde a maioria das pessoas iria após a morte. Assim, apenas um número pequeno iria para o Inferno. Conforme a doutrina católica, todos os que estão no Purgatório têm chances de “purgar” seus pecados e pagar por seus crimes, podendo, depois de algum tempo, se dirigir ao céu. A partir desta perspectiva, provavelmente um número bem pequeno, ao final, seria eternamente perdido.
Uma outra forma de diminuir o julgamento de Deus é o universalismo soteriológico. Esta é a idéia de que, no fim das contas, todos serão salvos. Os universalistas acreditam que a existência de um Inferno seria algo incompatível com o amor e a bondade de Deus. Sendo assim, Deus em seu imenso poder, achará alguma forma de salvar a todos os homens. Na história da igreja, houve até defensores de que o próprio Diabo e seus anjos serão de alguma forma salvos no fim1. Alguns universalistas até concordam que pode haver algum tempo de punição para os ímpios, mas que no fim, todos serão salvos. É evidente que para manter esta posição, a Bíblia terá que ser deixada de lado, por esta razão, tais idéias geralmente fluem dos movimentos de teologia liberal, que desconsideram a Inspiração e a Inerrância das Escrituras. Somente se o pecado do homem não for tão terrível como a Bíblia o descreve, e somente se o sacrifício de Jesus for algo sem valor, é que o universalismo soteriológico poderia ser viável.
Existe também a crença no extincionismo da alma. Como o próprio nome sugere, os perdidos seriam aniquilados, ou seja, reduzidos a um estado de não-existência. Esta posição é diferente do universalismo porque não defende a salvação dos ímpios, mas diz que o Inferno não é eterno. Após a morte e o julgamento, os ímpios serão lançados no Inferno onde serão queimados, ou seja, destruídos. Os defensores dessa idéia questionam como o fogo poderia queimar algo eternamente, pois em algum momento teria que se consumir. Portanto, a partir de algum momento, as almas deixariam de existir. Admite-se a possibilidade de que haja variação de um perdido para o outro, em termos de sofrimento que antecipa a extinção, mas no fim, todos os ímpios simplesmente deixarão de existir. Um argumento que geralmente é usado para defender esta posição é que não poderia haver felicidade verdadeira no céu, se os habitantes do paraíso soubessem que existe um Inferno cheio de pessoas sofrendo eternamente. Os mais famosos defensores do aniquilamento são as Testemunhas de Jeová, mas muitos teólogos simpatizam com esta idéia.
O Castigo Eterno.
Não cabe a nós determinar como deverá ser o futuro. Se Deus quiser aniquilar os ímpios, ele o fará, e não caberá a nenhum de nós qualquer questionamento. Porém, da perspectiva da interpretação bíblica tradicional, parece muito difícil sustentar a doutrina do aniquilamento. Por mais que esse seja um assunto difícil, e que talvez, todos nós até desejássemos que houvesse um aniquilamento, o fato é que, a menos que estejamos interpretando erroneamente os textos bíblicos, os ímpios realmente passarão a eternidade sendo punidos no Inferno.
Há um número muito grande de passagens bíblicas que falam sobre o Inferno. Há pelo menos 50 textos da Escritura que falam diretamente do Inferno ou da Punição que os ímpios receberão. Nesse momento, nossa intenção é nos concentrarmos nos textos que falam sobre a duração desta punição. Em Mateus 18.8, Jesus fala sobre um “fogo eterno”. Ele diz: “Portanto, se a tua mão ou o teu pé te faz tropeçar, corta-o e lança-o fora de ti; melhor é entrares na vida manco ou aleijado do que, tendo duas mãos ou dois pés, seres lançado no fogo eterno”. A imagem de um fogo queimando eternamente conduz necessariamente à idéia de que o lugar de punição dos ímpios é eterno. Não haveria razão para o fogo ser eterno se em algum momento, os ímpios simplesmente deixassem de existir. No capítulo 25 de Mateus, Jesus volta a falar sobre este assunto.
Ele fala sobre a ocasião do Julgamento Final quando separará as ovelhas dos cabritos: “Então, o Rei dirá também aos que estiverem à sua esquerda: Apartai-vos de mim, malditos, para o fogo eterno, preparado para o diabo e seus anjos” (Mt 25.41). Logo à frente, ele explica o que significa este estado: “E irão estes para o castigo eterno, porém os justos, para a vida eterna” (Mt 25.46). Jesus chama o castigo dos ímpios de “eterno”, e o compara com a recompensa dos salvos que é a vida “eterna”. Se o castigo dos ímpios não for eterno, então, a vida dos salvos também pode não ser eterna. No Evangelho de Marcos, temos algumas expressões ainda mais fortes de Jesus sobre o estado de eterna punição dos ímpios. Ele diz: “E, se tua mão te faz tropeçar, corta-a; pois é melhor entrares maneta na vida do que, tendo as duas mãos, ires para o Inferno, para o fogo inextinguível onde não lhes morre o verme, nem o fogo se apaga” (Mc 9.43-44). Por três vezes Jesus fala desse fogo inextinguível e desse verme que corrói e nunca morre. Ele está retratando o sofrimento interior, pelo verme, e exterior pelo fogo. Ambos os sofrimentos, segundo Jesus, são eternos. É possível que as expressões usadas pela Bíblia, como fogo, verme, trevas, etc., não devam ser entendidas literalmente. Pode ser uma maneira de expressar em língua compreensível coisas incompreensíveis para o homem. Porém, o elemento de duração está bem claro nos textos: é eterno.
Um dos textos bíblicos mais claros sobre a punição eterna é 2Tessaloniscenses 1.9: “Estes sofrerão penalidade de eterna destruição, banidos da face do Senhor e da glória do seu poder”. Paulo está, evidentemente falando sobre os ímpios, e sobre o que eles enfrentarão na Segunda Vinda de Jesus. A penalidade deles será “eterna destruição”, sendo banidos da face do Senhor. A própria expressão “banidos” sugere continuar existindo, mas “longe de”. Eles exisitirão eternamente banidos da face do Senhor em destruição eterna. O Apocalipse descreve um outro aspecto deste sofrimento eterno: “Também esse beberá do vinho da cólera de Deus, preparado, sem mistura, do cálice da sua ira, e será atormentado com fogo e enxofre, diante dos santos anjos e na presença do Cordeiro. A fumaça do seu tormento sobe pelos séculos dos séculos, e não têm descanso algum, nem de dia nem de noite, os adoradores da besta e da sua imagem e quem quer que receba a marca do seu nome. (Ap 14.10-11). Parece haver uma contradição desse texto em relação ao anterior, mas eles estão apenas enfatizando facetas diferentes do sofrimento dos ímpios. Eles estarão ao mesmo tempo “banidos da face do Senhor” e “atormentados na presença do Senhor”. O banimento se refere à impossibilidade de acessar o favor divino. Por outro lado, terão que encarar a face de Ira do Cordeiro, porque são merecedores da condenação. Para entendermos este contraste entre o abandono e a presença de Deus, devemos nos lembrar do que aconteceu com Jesus na Cruz. O próprio Jesus confessa que sofreu um abandono de Deus (Mt 27.46). Então, num sentido Deus abandonou seu Filho na cruz, pois virou seu rosto de Jesus, isso significa que não mais o sustentou com sua graça. Porém, noutro sentido, o olhar de Deus permaneceu sobre Jesus, mas era o olhar de Ira. Da mesma forma, os perdidos não estarão na presença de Deus, entendendo-se essa presença como favor, mas estarão na presença de Deus, entendendo-se essa presença como ira. Com relação à duração da penalidade que virá aos que se submetem à marca da Besta, o texto diz que a fumaça do seu tormento sobe pelos séculos dos séculos, e não têm descanso algum nem de dia nem de noite. Respeitando o simbolismo da passagem, a duração eterna da punição está muito evidente. Qualquer outra interpretação teria que forçar o sentido natural do texto. Portanto, diante destes textos bíblicos, fica muito difícil sustentar idéias como “universalismo” ou “aniquilamento”.
O Inferno e o Cristão
Qual deve ser a postura do cristão ao considerar a doutrina do Inferno? Primeiramente, ele não precisa temer o Inferno. O Inferno foi feito para o diabo e seus anjos (Mt 25.41), e os homens maus irão para lá como conseqüência de seus pecados e por sua recusa em aceitar a salvação que Deus providenciou.
Devemos considerar que o conhecimento da existência do Inferno deve conduzir o crente verdadeiro ao trabalho. Como diz Hoekema, “para nosso empreendimento missionário, a doutrina do Inferno deveria nos impulsionar a um zelo e urgência maiores”2. E de fato, se percebemos que todos os que morrerem sem Cristo, quer estejam do nosso lado, quer estejam no outro lado do mundo, passarão a eternidade nesse lugar horrendo de punição, nosso coração deveria se comover a tentar resgatar alguns do fogo (Jd 22-23). Devemos nos lembrar também, que Deus pode exigir de nós o sangue alheio. Paulo entendia que Deus poderia cobrar dele, caso se recusasse a pregar o Evangelho, por isso, depois de passar três anos pregando aos Efésios, pôde dizer: “Portanto, eu vos protesto, no dia de hoje, que estou limpo do sangue de todos; porque jamais deixei de vos anunciar todo o desígnio de Deus” (At 20.25-27). Ele entendia as coisas da seguinte maneira: “Se anuncio o evangelho, não tenho de que me gloriar, pois sobre mim pesa essa obrigação; porque ai de mim se não pregar o evangelho!” (1Co 9.16). Isto nos faz lembrar da história do Antigo Testamento sobre o Atalaia descrito em Ezequiel 33. O Atalaia era uma espécie de vigia que se colocava na torre para observar a aproximação de inimigos. Se o Atalaia visse inimigos se aproximando e desse o aviso, caso as pessoas não se importassem, e acabassem morrendo, o Atalaia estava livre, pois havia cumprido seu papel. Porém, se visse o inimigo se aproximando e não desse o aviso, ele teria que pagar pelo sangue dos que morreram (Ez 33.1-9). A doutrina do Inferno fala ao cristão de suas responsabilidades.
Finalmente, diante do ensino bíblico de que tanto os homens como os demônios serão punidos no Inferno, não pode prevalecer o conceito popular de que o Diabo é o chefe do Inferno. O Diabo nem se quer está no Inferno agora. Seu lugar é a terra (Ef 6.12; Ap 12.9,12). Satanás será lançado no Lago de Fogo, para ser eternamente punido juntamente com todos os seus anjos, após a vinda de Jesus. Ele não irá para lá a fim de mandar, mas para sofrer, e de todos, certamente será o que mais sofrerá. Por outro lado, o crente verdadeiro jamais irá para este lugar. Se o Senhor Jesus sofreu a penalidade do crente, e se o crente confia de todo coração nesta obra de Jesus, e tem experimentado a transformação do Espírito, pode tranqüilizar a sua alma.

O Destino dos salvos

Depois do Grande Dia do Juízo, de acordo com a Palavra de Deus, os salvos habitarão a nova terra que será conjuntamente recriada com os novos céus. No estado atual, as almas das pessoas que morreram em Cristo estão na presença de Deus, desfrutando o paraíso no céu, porém, essas almas estão lá sem seus corpos. Por isso, o Paraíso hoje é chamado de lugar de descanso. As almas dos salvos devem descansar até o último dia, quando ressuscitarão (Ap 6.11; 14.13). Após a ressurreição, quando as almas dos salvos se unirem a seus novos corpos, os redimidos serão conduzidos a um novo estado de existência mais pleno (1Co 15.35-49).
A Bíblia diz que haverá uma grande renovação que acontecerá no futuro. Jesus falou que na sua vinda aconteceria a “regeneração” (Mt 19.28). Isso certamente se refere ao momento quando Deus renovar os céus e a terra. Pedro disse que Jesus ficaria nos céus “até aos tempos da restauração de todas as coisas, de que Deus falou por boca dos seus santos profetas desde a antiguidade” (At 3.21). Assim, as profecias do Antigo Testamento se cumprirão quando Deus renovar a terra. E Pedro fala novamente que na vinda do Dia de Deus, os céus incendiados, serão desfeitos, e os elementos abrasados se derreterão (2Pe 3.12). E ele complementa: “Nós, porém, segundo a sua promessa, esperamos novos céus e nova terra, nos quais habita justiça” (2Pe 3.13). Tanto a terra como os céus serão renovados. Em Isaías 65 o Senhor já havia prometido: “Pois eis que eu crio novos céus e nova terra; e não haverá lembrança das coisas passadas, jamais haverá memória delas” (Is 65.17). E João viu numa visão o cumprimento dessa promessa: “Vi novo céu e nova terra, pois o primeiro céu e a primeira terra passaram, e o mar já não existe” (Ap 21.1). Após todos os cataclismas finais, quando Deus exercer sua justiça sobre o mundo decaído, e julgar todas as pessoas, ele renovará toda a sua criação, incluindo a terra e o céu. Esta é a grande expectativa do povo de Deus.
A Renovação da terra
Deus sempre se importou com a terra. O relato da criação diz: “No princípio, criou Deus os céus e a terra. A terra, porém...” (Gn 1.1-2). Daí para a frente, a terra ocupa o centro das atenções. Desde o início, a preocupação principal do Espírito Santo foi revelar como a terra surgiu, e poucos detalhes foram dados a respeito do céu. No plano de Deus, a terra foi o lugar idealizado para a habitação dos homens. Desde o começo, Deus planejou que a terra fosse o lugar onde o ser humano se realizaria: “Também disse Deus: Façamos o homem à nossa imagem, conforme a nossa semelhança; tenha ele domínio sobre os peixes do mar, sobre as aves dos céus, sobre os animais domésticos, sobre toda a terra e sobre todos os répteis que rastejam pela terra” (Gn 1.26). Foi somente quando o homem transgrediu a ordem de Deus, que Deus amaldiçoou a terra: “E a Adão disse: Visto que atendeste a voz de tua mulher e comeste da árvore que eu te ordenara não comesses, maldita é a terra por tua causa; em fadigas obterás dela o sustento durante os dias de tua vida” (Gn 3.17). Porém, sempre esteve no plano de Deus restaurar a terra. Por esta razão, Jesus foi enviado a este mundo. Ele veio aqui para retirar a maldição. Não é sem motivo que João Batista tenha chamado Jesus de “o Cordeiro de Deus que tira o pecado do mundo” (Jo 1.29). Evidentemente que Jesus não tira os pecados de todas as pessoas do mundo, pois a Bíblia não ensina o universalismo, porém, Jesus tira o pecado do mundo (grego: cosmos), porque veio aqui para eliminar os efeitos do pecado sobre este mundo. Ele assumiu a antiga maldição, pois fez-se maldito ao ser pendurado num madeiro (Gl 3.13). O sacrifício de Jesus não apenas salva os pecadores, mas é a fonte da restauração da própria terra amaldiçoada pelo pecado. Por isso, Paulo fala da expectativa da criação: “A ardente expectativa da criação aguarda a revelação dos filhos de Deus. Pois a criação está sujeita à vaidade, não voluntariamente, mas por causa daquele que a sujeitou, na esperança de que a própria criação será redimida do cativeiro da corrupção, para a liberdade da glória dos filhos de Deus. Porque sabemos que toda a criação, a um só tempo, geme e suporta angústias até agora. E não somente ela, mas também nós, que temos as primícias do Espírito, igualmente gememos em nosso íntimo, aguardando a adoção de filhos, a redenção do nosso corpo” (Rm 8.19-23). Por causa da redenção de Cristo, há uma redenção também para a Criação. Quando os filhos de Deus receberem seus corpos novos, a terra também terá sua renovação. Nessa terra, a maldição será totalmente retirada, pois João diz: “Nunca mais haverá qualquer maldição. Nela, estará o trono de Deus e do Cordeiro. Os seus servos o servirão” (Ap 22.3).
Quando João diz que, na nova terra o mar já não existe (Ap 21.1), não sabemos se isso é literal ou simbólico, mas possivelmente seja simbólico. O mar pode representar os distúrbios que assolam o mundo. A não-existência do mar implicaria num estado de total tranqüilidade. A nova terra será caracterizada pela paz e pela prosperidade. Nela, certamente se cumprirão todas as promessas do Antigo Testamento que ainda não se cumpriram, sobre a prosperidade do povo de Deus. Se não houvesse a nova terra, possivelmente estas profecias ficassem sem cumprimento. Elas não poderiam ser cumpridas, se o futuro reservasse para nós apenas um estado incorpóreo de existência, em algum lugar celestial. Mas, como o futuro é concreto e terreno, as expectativas do Antigo Testamento se cumprirão. Entretanto, não devemos considerar literalmente os elementos preditos, que as vezes falam de montes produzindo mosto e leite (Jl 3.18), bem como de pessoas morrendo jovens aos 100 anos de idade (Is 65.20). Evidentemente que são símbolos de prosperidade e de paz que estarão presentes na nova terra, não apenas por mil anos, mas para sempre. Quando o Senhor renovar a terra, então, os justos habitarão nela, para se cumprir o que Jesus disse: “Bem-aventurados os mansos, porque herdarão a terra” (Mt 5.5). Especialmente a questão do trabalho deverá ter importância na nova terra. Quando Deus criou o homem o colocou numa esfera de três relacionamentos: Havia a responsabilidade espiritual, a responsabilidade social e a responsabilidade cultural. Desde o início, o plano de Deus para o ser humano incluía o trabalho, a família, o lazer e acima de tudo, o culto. Talvez não haja razão para excluirmos nenhum destes elementos na nova terra. No plano espiritual Deus estabeleceu o Sábado para o culto, e deixou sua imagem impressa no homem para que houvesse um relacionamento verdadeiro e íntimo entre o criador e a criatura. No plano social Deus fez a mulher para o homem constituir família, e assim houvesse um relacionamento de ajuda e complementação. No plano cultural Deus colocou o cosmos inteiro à disposição do homem, a fim de que explorasse responsavelmente todas as suas riquezas. No ambiente desses relacionamentos o ser humano experimentaria sua completa realização. Portanto, se o trabalho desde o início esteve no plano de Deus, não há razão para pensar que não esteja no futuro. Certamente não seremos desocupados flutuando de nuvem em nuvem. Porém, certamente não será um trabalho que traga canseiras e frustrações, pois isto acontece por causa do pecado (Gn 3.17-19), e lá, não haverá pecado.
A Renovação dos céus
Segundo a Bíblia, não apenas a terra passará por um processo de renovação, pois o próprio céu será renovado. É difícil não perguntar sobre o “porquê” da renovação do céu. A Bíblia terá que dar a resposta. A Bíblia diz que o sacrifício de Jesus fez reconciliação de coisas na terra e no céu (Cl 1.20). De alguma forma, aparentemente o pecado deixou seus efeitos até mesmo no céu. Precisamos lembrar que a rebelião de Satanás aconteceu no céu, e ele convenceu muitos dos anjos de Deus a seguí-lo em sua luta contra Deus. Até a ascensão de Cristo, Satanás continuou tendo algum acesso à presença de Deus (Jó 1.6; Ap 12.7-9). É possível que a renovação dos céus tenha algo a ver com o desejo de Deus de não deixar nenhum registro do pecado. Deus quer sua Criação inteiramente renovada, e isso inclui tanto o céu quanto a terra.
Mas certamente, a principal razão para a renovação do próprio céu tem a ver com a disposição de Deus de estar perto do ser humano. Quando João viu os novos céus e a nova terra, viu descendo do céu a cidade santa, a nova Jerusalém, que descia do céu, da parte de Deus, ataviada como noiva adornada para o seu esposo (Ap 21.2). Seja qual for o significado desta cena, fala-nos do relacionamento pessoal que Deus deseja manter com seu povo, pois uma voz vinda do trono exclamou: “Eis o tabernáculo de Deus com os homens. Deus habitará com eles. Eles serão povos de Deus, e Deus mesmo estará com eles” (Ap 21.3). Nos novos céus e nova terra, não haverá separação entre o céu, a habitação de Deus (1Rs 8.30, Is 66.1), e a terra, a habitação dos homens. Na nova terra, não haverá a necessidade de santuários, conforme João diz: “Nela, não vi santuário, porque o seu santuário é o Senhor, o Deus Todo-Poderoso, e o Cordeiro. A cidade não precisa nem do sol, nem da lua, para lhe darem claridade, pois a glória de Deus a iluminou, e o Cordeiro é a sua lâmpada” (Ap 21.22-23). A presença plena de Deus na terra mostra que os céus têm vindo à terra. Terra e céus passaram a estar interligados. Nenhuma imagem poderia ser mais forte, nesse sentido, do que a que descreve o próprio trono de Deus na terra: “Nela, estará o trono de Deus e do Cordeiro. Os seus servos o servirão, contemplarão a sua face, e na sua fronte está o nome dele. Então, já não haverá noite, nem precisam eles de luz de candeia, nem da luz do sol, porque o Senhor Deus brilhará sobre eles, e reinarão pelos séculos dos séculos” (Ap 22.3-5). O Antigo Testamento é muito enfático em descrever que o Trono de Deus está no céu. Em Isaías 66.1, o próprio Deus diz: “O céu é o meu trono, e a terra, o estrado dos meus pés”. Na recriação, a terra deixará de ser apenas o “estrado” para ser a Sala do Trono. Por esta razão, esses dois lugares estarão definitivamente unidos, não haverá mais separação entre a habitação dos homens e a habitação de Deus. Portanto, os habitantes da nova terra serão também habitantes dos novos céus. A terra e o céu serão uma só coisa, o lar de Deus e dos homens. Essas imagens, como diz Pohl, “significam a comunhão perfeita entre Deus e o ser humano, ou que o ser humano, sem qualquer perturbação, está em casa junto com Deus”3.
Um elemento que precisa ser considerado é se os novos céus e nova terra serão totalmente diferentes dos atuais ou se haverá alguma continuidade. Provavelmente haverá tanto continuidade como novidade. Como já falamos em um estudo anterior sobre o corpo da ressurreição que será tanto um corpo novo como uma continuação do atual, também o novo universo será uma continuação do atual, mas ao mesmo tempo será novo. Será um lugar de prazeres indescritíveis, onde os santos viverão uma vida cheia de significado e realização. Poderão usar suas vidas eternas, livres de qualquer imperfeição, servindo-se de suas imensas capacidades, para glorificar eternamente ao Pai, ao Filho e ao Espírito Santo. E participarão dos eternos propósitos de Deus para o mundo vindouro.
Quanto à questão das lembranças, há um sentido em que não mais nos lembraremos das coisas ruins. Isaías disse que nos “novos céus e nova terra” não haveria lembrança das coisas passadas e nem memória delas (Ver Is 65.17). Evidentemente que, se alguma coisa pode nos fazer infelizes, esta coisa não existirá no paraíso restaurado. No entanto, não devemos pensar que esqueceremos de tudo. Será que poderíamos esquecer da própria redenção? Como esquecer que Cristo morreu pelos nossos pecados? Deus nunca apagará de nossa memória o fracasso da declaração de independência do homem, para que o homem sempre se alegre em depender de Deus. Também é certo que reconheceremos uns aos outros, pois o próprio Jesus disse que Abraão, Isaque e Jacó poderiam ser reconhecidos no reino de Deus (Ver Lc 13.28). Mas nada poderá nos fazer sofrer, porque lá não há mais qualquer tipo de sofrimento (Ver Ap 21.4).
Cabe ainda uma palavra sobre a recompensa dos justos. Segundo a Bíblia, os justos desfrutarão da Vida Eterna. Porém, a eternidade não é a característica única desta vida, pois, no sentido temporal, mesmo os ímpios viverão eternamente no Inferno. É a qualidade dessa vida eterna que se destaca. Os santos desfrutarão da presença eterna e benéfica de Deus, experimentando a vida em sua plenitude, “sem nenhuma das imperfeições e dos distúrbios da presente vida”4. Uma das principais bem-aventuranças dos habitantes do futuro universo é que verão a Deus. Jesus disse: “Bem-aventurados os limpos de coração, porque verão a Deus” (Mt 5.8). E João diz: “Amados, agora, somos filhos de Deus, e ainda não se manifestou o que haveremos de ser. Sabemos que, quando ele se manifestar, seremos semelhantes a ele, porque haveremos de vê-lo como ele é” (1Jo 3.2). Poderemos ver a plena presença de Deus na face de Cristo. Esta, sem dúvida, será nossa maior recompensa.
No futuro, quando adentrarmos a nova terra e o novo céu, desfrutaremos de todas as bênçãos de Deus em sua plenitude. Não haverá qualquer separação entre a terra e o céu, e conseqüentemente, nenhuma separação entre o homem e Deus. Todos os crentes ressuscitados ou transformados adentrarão as portas da eternidade, e viverão sempre a glorificar a Deus e ao Cordeiro. Essa é a nossa grande e bendita esperança. Quando estivermos lá, poderemos louvar a Deus infinitamente pela Revelação, pela Criação, pela Redenção, e até pela Queda, que nos fez conhecer mais da sua Graça. Porém, ao mesmo tempo em que olhamos para o futuro e nos enchemos de esperança, precisamos viver plenamente o presente. Para dar a razão da esperança não basta apenas ter conhecimento intelectual das coisas que aqui foram estudadas, é preciso praticar, pois toda a nossa vida precisa ser transformada pela Esperança. Como disse Calvino: “A esperança não é mais do que o alimento e a força da fé”5.
Fonte de pesquisa: 1Hoekema cita o pai da igreja Origenes (184-254) como defensor dessa posição. Ver Antony Hoekema. A Bíblia e o Futuro p.355
2Antony Hoekema A BÍblia e o Futuro p.365
3 Adolf Pohl Apocalipse de João p.279
4 Louis Berkhof Teologia Sistematica p.743
5 João Calvino. As Institutas III. 2.43
WILSON PLAZA





Sem comentários:

Enviar um comentário