O que poderia levar Reformados ao caminho da arrogância e soberba?
Essa pergunta pode soar estranha e imprópria. Entretanto, o orgulho espiritual é um pecado no qual, reformados correm o risco de cair. A razão para o deslize – por incrível que pareça – é o conhecimento doutrinário que recebem. O que fazer com ele? A resposta a essa pergunta é que faz toda a diferença.
Diz o velho jargão que “conhecimento é poder”. É fato que aqueles que têm contado com a Fé Reformada e se afadigam no estudo dela estão à frente daqueles cristãos evangélicos que só conhecem superficialmente o evangelho de Cristo. Os Reformados estão entre os leitores de livros doutrinários e históricos, freqüentam simpósios e encontros. Esse conhecimento os separa e os distingue. Como resultado alguns Reformados poderão se julgar superiores aos demais mostrando, assim, soberba e arrogância.
Isso seria estranho, pois quanto mais conhecimento obtemos de Deus mais conscientes deveríamos ficar da nossa miséria e falência. Como resultado isso deveria nos levar ao quebrantamento e a servidão de tal forma que consideraríamos os outros superiores a nós mesmos. Ao contemplar a glória de Deus no templo, após uma profunda crise, Isaías em êxtase gritou: “Ai de mim! Estou perdido!”. O peso da glória divina esmagou o profeta e o fez conhecer sua insignificância e vileza. Além disso, logo após essa confissão, brotou uma identificação com o próximo de tal maneira que o levou ao serviço: “eis-me aqui”. Essa visão reformou completamente o profeta. O conhecimento de Deus o lançou ao povo a fim de instruí-lo na verdade. Eis um homem consciente da sua miséria e depravação com uma mensagem de perdão e esperança nos lábios. A contemplação da majestade de Deus não levou Isaías ao orgulho espiritual e nem ao isolamento dos demais homens. Existe o risco de haver uma apreensão intelectual da Verdade, sem essa, porém, nunca haver chegado ao coração. Assim sendo, o conhecimento de Cristo e da sua doutrina, se não nos leva à humildade, inevitavelmente, nos conduzirá à soberba e, por que não dizer, ao farisaísmo.
Imagine a antiga oração contextualizada: “Ó Deus, graças te dou porque não sou como os demais homens, arminianos, pentecostais e dispensacionalistas, nem ainda como um liberal; leio a Confissão de Fé duas vezes por dia e dou o máximo de tudo quanto ganho para comprar livros reformados, frequentar congressos e simpósios”. Se assim procedêssemos estaríamos nos considerando justos e desprezando os demais.
Concluo enfatizando que precisamos de um calvinismo prático – uma Reforma que nos leva a uma experiência diária de real quebrantamento diante de Deus e humildade perante os demais homens. O “eis-me aqui” de Isaías precisar ser acompanhado pelo “Ai de mim! Estou perdido!”. São essas duas expressões que devem moldar a experiência do reformado, pois somente assim poderemos fazer diferença no nosso meio e na nossa geração. Com o discurso e a prática presentes na nossa Fé Reformada seremos realmente relevantes para o mundo. Porém, sem a experiência de vida reformada estaremos falando de nós para nós mesmos – presos no gueto da nossa própria vaidade e futilidade.
Rev. Naziaseno Cordeiro Torres
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